quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Pequenos Gestos, Grande Afeto

Eu aos 3 anos de idade
Quando eu era criança eu tinha na minha cabeça que todos os heróis que via na TV existiam. Batman, Superman, Jaspion, Tartarugas Ninjas, Caça-Fantasmas eram os top list pra mim. Como não tive a felicidade de ter minha mãe ou meu Pai ao meu lado durante minha infância esses seres me acompanhavam durante todo o tempo.

  Minha avó (uma verdadeira heroína por ser Pai e Mãe para mim) não podia me dar toda a sua atenção pois trabalhava 24hs sim 24hs não no hospital e eu ficava com babás ou sozinho (isso depois dos 16 anos). Lembro que das melhores brincadeiras a de amarrar uma caixa de papelão nas costas e uma tira de pano no rosto e sair na rua me sentindo uma verdadeira tartaruga Ninja, ou por um tubo de linha seco amarrado em com uma corda e junto da mesma caixa de papelão virar a mochila de prótons dos Caça-fantasmaseram minhas brincadeiras preferidas. Com um tempo minha avó foi morar no hospital e com isso eu passava o dia todo trancado no leito de repouso dos médicos assistindo uma tv pequenina que também era um rádio (ainda preto e branco) e desenhando.  Eram tempos bons, onde a tecnologia não chegava a todos e mesmo assim todos eram felizes. Onde a programação da tv estava de bom tamanho e todos os meus amigos de colégio eram amigos de verdade.

Aos 17 anos com meus amigos na Banda de Rock
Aos 14 anos, lembro das minhas revoltas em sempre achar que estava certo quando não estava, em minhas brigas com minha avó, em ficar emburrado no canto quando a mesma não me deixava sair de casa ou viajar com um grupo de colegas para um final de semana na praia. Embora eu nunca fosse o cara da gandaiá que bebia todas e dançava (esse definitivamente não era eu, pois sempre fui o cara que sentava no canto com os amigos falando de revista em quadrinhos, filmes, desenhos e bandas de rock) nunca conseguia entender porque minha avó era tão chata comigo, porque eu não poderia sair já que ela sabia que eu ia me comportar bem. E com estas dúvidas e confusões resolvi ser o revoltado, e quando falo de revoltado não me reviro a quebrar coisas em casa ou xingar todos na rua mas sim, sair escondido, subir as serras sem ela saber, viajar em segredo e isso com certeza deixava minha avó muito triste e eu não ligava, achava que era drama de avó.
 
   Passando muito tempo depois, vim a fortaleza com a ideia de fazer animação e com isso conheci minha atual companheira. E confesso que eramos de varar noites na casa de amigos, em boates e danceterias e de viver curtindo como se não houvesse amanhã e com um tempo recebemos a notícia que ela estava grávida. Lembro que meu mundo caiu, como eu iria sustentar aquela criança se nem trabalho fixo eu tinha? Como sustentar a gravidez de minha esposa? E pouco meses depois ela sofreu um aborto e o meu filho Gabriel morreu. Foi uma dor que eu jamais pensei sentir, foi como se uma flecha de adamantium furasse meu peito com uma força de 2 toneladas, lembro que adoeci e de uma simples gripe tive uma bronquite grave e graças a Deus me curei.

Maria Clara, a luz da família
   Alguns anos depois, minha esposa teve um sonho que uma menininha de cabelos encaracolados sorria para ela em uma casa branca. Minha esposa então a chamava "Maria Clara, vem cá!" e alguns meses depois desse sonho ela descobriu que estava grávida de uma menina e que acabou ganhando o nome de Maria Clara.
  A ela eu apresentei tudo aquilo que me fazia sorrir quando criança, Pernalonga, Pica-Pau, Tom e Jerry, vários desenhos Disney, revista em quadrinhos ( e ela nem entendia nada ainda) e aos 2 anos, lembro que ela acordou muito cedinho e não quis mais dormir. Peguei-a nos braços, armei uma rede na sala próximo a tv e foi deitar com ela na rede, e fomos ver o que passava. Estava começando o Telecurso 2000, e eu levantei correndo peguei um dvd do Pernalonga e pus ela pra assistir enquanto eu voltava a dormir ( detalhe, liguei o repet e quando acabasse todo o dvd começava de novo). Minha esposa acordou as 7:30 por ai e ela ainda estava acordada assistindo, ela então me acordou e disse "Fernando, nossa filha tá vendo desenho até uma hora dessas e sem chorar?" eu acordei, limpei meus olhos e olhei para ela que me olhou também em resposta e sorriu.

   Descrever essa situação pode parecer simples a quem lê mas para mim foi uma das coisas mais lindas que vivi com ela, e todos os dias antes de sair para o trabalho eu tinha que ligar a tv, colocar o Pernalonga, pôr ela no meu colo sentado numa cadeira de balanço e ver o dvd até acabar, era uma rotina simples para mim mas super importante para ela.

Rafael, meu pequeno grande Herói
    Meu segundo filho eu confesso que vacilei e não aproveitar o começo de seu desenvolvimento, pois foi uma época muito conturbada de minha vida e eu estava separado de minha esposa e com isso namorei outra pessoa. Mas quando voltamos, tentei muuuito recuperar o tempo perdido e dai já era tarde, mesmo assim tentei. Ao Rafael (que recebeu esse nome por conta da Tartaruga, e não tenho vergonha de dizer) mostrei todos os heróis de minha infância, Jaspion, Changemans, Tartarugas Ninjas e inclusive mostrei a ele Star Wars. E a coisa mais bacana nele é que ele da idade que tem ainda é um menino lindo, cheio de pureza e essa semana, eu estava muito cansado pois não dormia a uns 4 dias trabalhando e doente e ele chegou a mim e disse "Pai, o senhor é meu amigo." Claro que chorei a beça e abracei ele e foi aquela coisa toda.

Hoje, passei por mais uma, Minha terceira filha estava chorando muito pra dormir por conta de uma caneta que ela queria. E eu estava muito nervoso por conta dos dias que estou sem dormir trabalhando, então apaguei a luz, peguei no rostinho dela e... expliquei o que eu estava sentindo. Disse que estava cansando, que a amava muito e estava dando tudo de mim pra dar uma vida boa a ela e queria que entendesse isso um pouquinho e parasse de chorar. Ela tocou o meu rosto com as duas mãos, me puxou próximo a ela e me deu um beijo na testa e nesse momento ela parou de chorar ( mas eu comecei).

Fernanda, aquela que trás a alegria
     
                São pequenos gestos desses pequenos que fazem o esforço de um pai valer a pena.

   Hoje, por conta de cada demostração de carinho deles para comigo e dessa preocupação que tenho em dar uma vida boa a eles e tudo, consigo entender o porque da minha avó ser do jeito que era. Começo as vezes a agir como ela e percebo que não é por ser chato mas por cuidado. Por você não querer que seus filhos passem as coisas ruins que vc passou, por saber hoje o quanto vale os estudos na sua vida, por saber que filhos cedo demais não é uma boa opção (embora eles sempre são uma boa opção para mim). Hoje eu entendo perfeitamente minha avó, sei que ela não agia daquela forma por não confiar em mim, agia daquela forma por Amor e eu fico muito grato em saber que esse amor que eu recebi não tem tamanho e será ele que eu vou repassar aos meu filhos e espero que eles façam o mesmo com os seus.


Sére